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No Dia do Médico, profissionais falam sobre os desafios após a covid-19

A reportagem reune relatos de profissionais que atuam em áreas diferentes da medicina. Cada um deles, conta as experiência vividas, os desafios e o que acreditam que ainda pode mudar

pandemia provocada pela covid-19 além de mudar a rotina, o modo de se relacionar, afetou a vida de milhares de pessoas em todo o mundo, mas em especial um grupo viveu bem de perto os reflexos de tudo o que estava acontecendo.

Foto: Divulgação / Pexel

Sem poder ficar em casa, como recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) à maioria da população, os médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem e profissionais da área da saúde em geral, viveram uma incansável batalha com algo ainda desconhecido. Um vírus letal e altamente contagioso.

Para o médico nefrologista e professor da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) há 43 anos, Lauro Vasconcellos, a pandemia foi um divisor de águas na profissão

“Tivemos que lidar com um agente nocivo desconhecido. A medicina não contava com um vírus tão destruidor. Tivemos que aprender com os pacientes, uma vez que ainda não tínhamos um conhecimento prévio do que se tratava exatamente. Aprender com a doença não é a forma mais fácil, mas aprendemos bastante”, disse.

Lauro lembra que, como os pacientes reagiam de maneira diferente à infecção provocada pelo vírus, as equipes eram compostas por várias especialidades. Era preciso estar atento a tudo o que acontecia e como tudo evoluía.

Foto: Acervo pessoal

“A covid comprometia várias partes do sistema orgânico. Era um processo inflamatório sistêmico: rins, coração, a parte neurológica. De grande repercussão. É algo tão sério que comprometeu o tempo de vida médio da população: reduziu de 76 anos, reduziu para 72”.

Se reinventar na rotina do hospital, do consultório foi tarefa árdua para os médicos. Se antes já era fundamental olhar cada paciente em sua individualidade, com a chegada da pandemia isso se tornou ainda mais necessário.

Para o médico e professor, o desafio agora é outro: fazer com que os pacientes que antes deixaram os tratamentos por medo de sair de casa, voltem à rotina de cuidados.

“A medicina mudou. O que não muda é e nem pode mudar é o relacionamento médico e paciente. Ele é fundamental e agora tornou-se ainda mais necessário. A medicina é uma ciência e uma profissão que depende do contato humano. Precisa do toque. Seja ele direto ou indireto. De empatia, reação orgânica, afetividade. Quando isso existe, até mesmo os resultados do tratamento são diferentes”, afirma.

Os reflexos da pandemia também chegaram às salas de aula. Muitos alunos viveram parte dos estudos dentro de casa. Longe dos colegas. Sem contato uns com os outros.

Por esse motivo, Lauro acredita que o momento atual pede que essa reaproximação seja trabalhada com intensidade. “É um período de reconstrução de relações em todos os sentidos. Estamos resgatando contatos. Vivemos o impacto do reencontro, construindo um novo caminho”.

Lauro sabe que o caminho ainda deve ser longo já que, segundo ele, as pessoas passam ainda por um período de restabelecimento de relações em todos os sentidos. Mas que a medicina segue firme o objetivo de salvar vidas. “Podemos dizer que a medicina venceu e continuará vencendo. Precisamos manter a rota. Independentemente de todos os desafios a serem superados, estamos no cainho certo”, conclui.

Na linha de frente, dentro da UTI

Dentro de um Unidade de Tratamento Intensivo (UTI). Correndo contra o relógio na tentativa incessante de manter os pacientes mais graves vivos. Médico intensivista, Tárcio Toríbio Rodrigues Moreira lembra das dificuldade enfrentadas no momento mais crítico da pandemia.

“A gente teve que criar leitos e UTI´s onde não existia, transformar almoxarifados em enfermarias, treinar pessoas que não tinham muita familiarização com doenças mais graves para lidar de uma hora para outra com pacientes com dependência respiratória para tender um número cada vez maior de pessoas, lembra.

Foto: Acervo pessoal

Para Tárcio, naquele momento em especial, o principal desafio era exatamente tratar o desconhecido.

Ninguém entendia direito como funcionava a doença, quais eram os reais riscos de contágio e em quem ela se desenvolveria de maneiras mais catastróficas.

E foi exatamente no meio de todo esse turbilhão de incertezas e preocupações que o médico viveu um momento especial em família.

A esposa deu a luz ao filho caçula. Nos primeiros meses da chegada da pandemia ao Brasil e ao Espírito Santo.

“Meu filho, hoje com pouco mais dois anos, nasceu em abril de 2020. Eu ficava preocupado por que não sabia se poderia acompanhar o parto dele. Eu precisava trabalhar e sabia que caso eu ficasse doente, não poderia acompanhar a chegada dele”, lembra.

Segundo o médico intensivista a relação médico e paciente mudou com a pandemia e após o período mais severo, também.

Se antes era preconizado que os profissionais de saúde entrassem o menor número de vezes possível em determinados ambientes, agora, a realidade já e outra.

“As relações começaram a melhorar. Antes o contato com o paciente era para o tratamento e acompanhamento necessário. Não podia haver muito contato. Conseguimos, com o tempo, trabalhar o antes impensável: a reaproximação. Até mesmo a relação médica com a família do paciente que voltou a poder visitar o parente internado na UTI”.

Passado todo o momento de estresse maior, o respiro no ambiente de trabalho é bem melhor. Tárcio conta que os cuidados e precauções, estão menos pesados. Diminuiu o contágio da doença e as formas mais graves, também. Além disso, a vacinação e as cepas a que as pessoas foram expostas melhoraram a resposta imunológica da população.

Para ele, ainda é preciso avançar em alguns quesitos, como por exemplo, a qualidade do ambiente de trabalho, a educação continuada a segurança.

Das lições que ficaram, ele ressalta o trabalho em equipe. A importância de todos atuarem em conjunto: técnicos de enfermagem, enfermeiros, atendentes. “A nossa missão é restabelecer a saúde em equipe. É muito recompensador essa volta à quase vida normal. Seguimos na busca para devolver o paciente à sociedade, próximo ou igual ao que era antes de entrar na UTI. Da melhor maneira possível, pontua.

A ausência do abraço no consultório

Médica otorrinolaringologista, Andressa Rocha Camporez, viu muita coisa mudar na rotina do consultório. Quanto maior o número de pacientes com os sintomas respiratórios provocados pela covid-19, menor o contato entre eles.

“Era um momento muito delicado. Os pacientes estavam inseguros e com medo. Nós médicos precisamos resgatar o toque que ficamos sem ter durante muito tempo. O abraço, o aperto de mão na chegada para a consulta. Isso tudo é importante”, destaca.

Para a profissional da saúde, são grandes os desafios que surgiram com pandemia. Principalmente as sequelas deixadas pela doença.

“Pacientes que antes pegavam quadros virais com mais tranquilidade, e não complicavam, agora evoluem para quadros até mesmo bacterianos. Precisam de tratamento com antibióticos. Respondem de uma maneira mais delicada. Com o organismo mais fragilizado os cuidados também são outros. Maiores, inclusive”, destaca.

A médica acredita que os profissionais estão no caminho certo e que, apesar de longo, é necessário quebrar algumas barreiras e vencer obstáculos com determinação.

“Devagar e sempre vamos construindo nossas relações novamente. E isso é muito bom. Eu sou a favor do abraço, sabe? Gosto de abraçar. Outro dia mesmo recebi uma paciente que disse: que saudade que eu estava desse abraço! Tem coisa melhor?, finaliza.

*Com informações do Folha Vitória

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